Como funciona o transplante de medula óssea no tratamento das leucemias

Avatar Dr. Rodrigo Brum

Por: Dr. Rodrigo Brum em 8 de dezembro de 2025 8 minutos de leitura Hematologia

Imagem Destacada do Post

O transplante de medula óssea é uma das terapias mais importantes e potencialmente curativas para diversos tipos de leucemias e outras doenças hematológicas. 

Geralmente é realizado para tratamento de algumas leucemias agudas e consiste na substituição das células tronco do paciente  por células-tronco dos doadores (transplante alogênico), com o objetivo de restabelecer a capacidade do sistema imune em reconhecer as células doentes da leucemia e destruí-las. 

O tratamento realizado previamente à infusão das células tronco (quimioterapia com ou sem radioterapia) também é parte fundamental do tratamento, pois prepara a medula do paciente para receber as novas células e também destrói células doentes remanescentes.  

Nos últimos anos, os avanços tecnológicos e científicos tornaram o transplante cada vez mais seguro e eficaz. O desenvolvimento de novas técnicas, a ampliação dos bancos de doadores e o uso de terapias imunológicas de suporte têm ampliado as chances de sucesso e sobrevida dos pacientes.

O objetivo deste artigo é ajudar a compreender como o transplante é indicado, realizado e monitorado, ajudar a reduzir dúvidas, medos e expectativas irreais, tornando o processo mais claro para pacientes e familiares.

Em quais leucemias o transplante é indicado?

O transplante de medula óssea alogênico geralmente é indicado para o tratamento de leucemias agudas de alto risco ou refratárias ao tratamento de 1º linha.  

Para os casos  de leucemias crônicas este procedimento, atualmente, com o advento das novas terapias, é realizado somente em caráter de exceção, em que geralmente não há outra terapia eficaz disponível. A definição de alto risco considera diversos fatores, juntos ou isolados, como: clínicos, laboratoriais, genéticos, moleculares e resposta ao tratamento inicial.  

O transplante autólogo (modalidade em que se utiliza células tronco do próprio doador) pode ser considerado em casos muito específicos para o tratamento de algumas leucemias agudas e em muitos destes casos o benefício é questionável.

Importante ressaltar que para realizar este procedimento considerado de alto risco, o paciente precisa ter condição clínica, geralmente menor de 70 anos, e estar em remissão da doença após o tratamento inicial. .

Diferenças entre transplante autólogo e alogênico

Existem dois tipos principais de transplante de medula óssea: o autólogo e o alogênico, que se diferenciam pela origem das células-tronco utilizadas.

No transplante autólogo, o próprio paciente é o doador. As células-tronco são coletadas da medula óssea ou do sangue periférico em um momento de remissão da doença, armazenadas e posteriormente reinfundidas após tratamento intensivo com quimioterapia. 

Essa modalidade é mais comum em doenças como mieloma múltiplo e linfomas, mas em casos  muito específicos também pode ser usada em leucemias.

Já no transplante alogênico, as células-tronco são obtidas de um doador compatível, que pode ser um parente (como um irmão) ou um voluntário encontrado em bancos de doadores. 

Esse tipo é o mais indicado para leucemias agudas, pois, além de substituir a medula doente, oferece um benefício imunológico adicional conhecido como efeito enxerto contra leucemia (GVL), no qual as novas células do doador ajudam a eliminar possíveis células residuais da doença.

Além dos riscos já conhecidos do tratamento intensivo com quimioterapia e radioterapia, o transplante alogênico  possui possível complicação muito específica da modalidade, a doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH), uma reação imunológica em que as novas células doadas atacam as células normais do paciente (ex: pele, pulmão, fígado, olho….). Esta complicação requer monitoramento e tratamento cuidadosos com um hematologista especialista em transplante. 

Etapas do procedimento

O transplante de medula óssea é um processo complexo que envolve várias etapas, realizadas sob acompanhamento de uma equipe multidisciplinar especializada em hematologia e transplante.

A primeira fase é a avaliação pré-transplante, que inclui uma série de exames laboratoriais, cardiológicos, respiratórios e infecciosos para garantir que a indicação esteja correta e o paciente tenha condições clínicas adequadas para o procedimento. 

Nessa etapa, também é feita a busca por um doador compatível, caso o transplante seja alogênico. Mais uma vez é importante ressaltar que a doença precisa estar em remissão após o tratamento inicial (quimioterapia) para que o processo do transplante prossiga. 

Após a definição do doador, inicia-se o regime de condicionamento, que consiste na administração de quimioterapia e, em alguns casos, radioterapia, com o objetivo de eliminar as células leucêmicas remanescentes e preparar a medula óssea para receber as novas células-tronco. Esse processo também suprime temporariamente o sistema imunológico, evitando a rejeição do enxerto.

Na sequência, ocorre a infusão das células-tronco, que são administradas por via intravenosa, de forma semelhante a uma transfusão de sangue. As células migram naturalmente para a medula óssea, onde se instalam e iniciam o processo de regeneração hematopoética. Essa etapa é conhecida como pega da medula e costuma ocorrer entre 10 e 20 dias após a infusão.

Durante esse período, o paciente permanece em ambiente protegido, com suporte de transfusões e antibióticos profiláticos, já que o sistema imunológico estará extremamente vulnerável. A recuperação total pode levar semanas, e o acompanhamento rigoroso é fundamental para prevenir complicações.

Como é o acompanhamento após o transplante

O pós-transplante é uma fase de extrema importância para o sucesso do tratamento. Nas primeiras semanas, o paciente permanece sob observação contínua para monitorar sinais de rejeição, infecções e toxicidades decorrentes do  tratamento. Os exames de sangue são realizados com alta frequência para acompanhar a recuperação das células sanguíneas e avaliar a pega da medula.

Nos meses seguintes, o acompanhamento ambulatorial torna-se periódico, com consultas regulares ao hematologista e exames para controle da função hepática, renal e imunológica. O uso de medicamentos imunossupressores é comum em transplantes alogênicos, a fim de prevenir a doença do enxerto contra o hospedeiro em um grau acentuado.

O retorno às atividades cotidianas é gradual e depende da estabilidade clínica e imunológica do paciente. Cuidados com alimentação, higiene e vacinação fazem parte do protocolo de recuperação. A adesão rigorosa às orientações médicas reduz o risco de complicações e melhora significativamente os resultados a longo prazo.

Conclusão

O transplante de medula óssea é um marco no tratamento das leucemias, oferecendo a possibilidade de cura para pacientes que antes tinham prognóstico limitado. Apesar de ser um procedimento complexo, os avanços nas terapias para o tratamento da doença, que aumentam a chance de remissão, na seleção de doadores, nas terapias de suporte, no condicionamento e no manejo pós-transplante, tornaram o processo mais seguro e com resultados cada vez mais promissores. 

Uma dúvida comum é os pacientes questionarem a necessidade do procedimento se a doença está em remissão. Isso ocorre porque nas doenças de alto risco a chance de recidiva da doença é muito alta e geralmente ocorre com clones mais resistentes, o que torna muito mais difícil colocar a doença em remissão novamente. A realização do transplante diminui a chance de recidiva aumentando portanto a chance de cura. 

Outra dúvida comum é o questionamento sobre por que não realizar o procedimento com a doença em atividade (sem remissão). O motivo é simples, a chance de sucesso do procedimento é muito pequena e todos os efeitos colaterais e possíveis complicações do procedimento continuam presentes.

O papel do hematologista é essencial em todas as etapas: desde a indicação correta, o tratamento inicial,  a realização do transplante, até o acompanhamento de longo prazo. Com diagnóstico precoce e manejo adequado, o transplante representa uma das estratégias mais eficazes no combate às leucemias agudas e uma esperança real de recomeço para milhares de pacientes.Em Goiânia, o Dr. Rodrigo Brum atua com foco em oncohematologia, oferecendo acompanhamento completo e personalizado para cada caso, com base nas mais recentes evidências científicas e protocolos internacionais.

Posts relacionados

Como funciona o transplante de medula óssea no tratamento das leucemias

Entenda como funciona o transplante de medula óssea, suas indicações nas leucemias, tipos de transplante e acompanhamento pós-procedimento. Confira!
Continue lendo

Congresso International Myeloma Society (IMS)

Saiba o que é o Congresso IMS, suas principais descobertas, a participação do Dr. Rodrigo Brum e como acompanhar as...
Continue lendo

GMSI aumenta o risco de ter mieloma múltiplo?

Entenda o que é GMSI, como é diagnosticado, seu risco de evoluir para mieloma múltiplo e a importância do acompanhamento...
Continue lendo

Anemia pode evoluir para leucemia?

Anemia e leucemia são doenças distintas, mas alguns tipos raros de anemia podem indicar risco hematológico. Saiba quando procurar um...
Continue lendo

São aceitos convênios médicos. Entre em contato para saber mais.

Locais de atendimento

Setor Marista

Hospital Albert Einstein

Av. Portugal, n.º 1148, Ed. Órion. Goiânia – Goiás

Agendar
Setor Sul

INGOH

Rua 87, n.º 598. Goiânia – Goiás

Agendar
Agendar consulta