Por: Dr. Rodrigo Brum em 23 de julho de 2025 • 6 minutos de leitura • Hematologia
Neste artigo, você vai entender o que é o mieloma múltiplo, quais são seus principais sintomas, os fatores de risco mais relevantes, como é feito o diagnóstico e quais são as opções de tratamento mais modernas e eficazes disponíveis atualmente.
O mieloma múltiplo é uma neoplasia maligna que se origina nos plasmócitos, um tipo de célula do sistema imunológico presente na medula óssea. Em condições normais, essas células produzem anticorpos que ajudam o organismo a combater infecções. No entanto, quando há mutações genéticas específicas, os plasmócitos doentes passam a se multiplicar desordenadamente e a produzir anticorpos defeituosos (proteínas monoclonais), que não têm função imunológica e ainda provocam danos aos tecidos.
O acúmulo de plasmócitos anormais pode causar destruição óssea, anemia, insuficiência renal, aumento do cálcio no sangue (hipercalcemia) e maior risco de infecções. Além disso, essas células podem substituir as células normais da medula óssea, prejudicando a produção de glóbulos vermelhos, brancos e plaquetas.
Vale destacar que nem toda presença de proteína monoclonal no sangue significa mieloma múltiplo. Algumas pessoas, especialmente acima dos 70 anos, podem apresentar uma condição chamada gamopatia monoclonal de significado indeterminado (GMSI), que requer apenas acompanhamento clínico periódico.
O mieloma múltiplo representa cerca de 1% de todos os tipos de câncer e aproximadamente 10% das neoplasias hematológicas. A taxa de incidência varia de 2 a 6 casos por 100 mil habitantes por ano, o que caracteriza a doença como rara.
Os principais fatores de risco incluem:
É importante ressaltar que o mieloma múltiplo não tem um fator causal único e, portanto, não é uma doença considerada prevenível.
Os sintomas do mieloma múltiplo costumam surgir de forma tardia e não específica. Muitos pacientes demoram a procurar atendimento médico por acreditarem que estão enfrentando situações comuns como dor muscular ou fadiga relacionada ao envelhecimento. Um dos principais achados laboratoriais que levantam suspeita da doença é a presença de uma proteína monoclonal no sangue, detectada por meio do exame chamado eletroforese de proteínas séricas. Em cerca de 15% a 20% dos casos, no entanto, são necessários exames complementares mais específicos, como imunofixação de proteínas e dosagem de cadeias leves livres, para confirmar a alteração.
Os principais sinais de alerta incluem:
É fundamental destacar que esses sinais e sintomas não são exclusivos do mieloma e podem estar relacionados a condições mais comuns na população geral, como anemia por deficiência de ferro, osteoporose, doença renal crônica causada por hipertensão ou diabetes, e até pelo uso prolongado de anti-inflamatórios. Por isso, o acompanhamento médico e avaliação especializada é essencial para um diagnóstico preciso.
O diagnóstico do mieloma múltiplo é complexo e deve ser feito por um hematologista experiente. Um dos primeiros indícios da doença costuma ser a detecção de proteínas monoclonais nos exames de sangue. Porém, essa alteração isolada, e , sem nenhum outro critério para a doença não confirma o diagnóstico.
Outros exames fundamentais incluem:
Nem todo paciente diagnosticado com mieloma múltiplo precisa iniciar tratamento imediatamente. Em casos assintomáticos e sem fatores de alto risco, a conduta mais apropriada pode ser apenas o acompanhamento rigoroso com exames periódicos, a fim de monitorar a progressão da doença ao longo do tempo.
Quando o tratamento é indicado, ele deve ser iniciado o quanto antes, para evitar complicações e preservar a qualidade de vida. Os pacientes são geralmente divididos em dois grupos principais:
Independentemente do grupo, todos os pacientes precisam receber uma combinação de medicamentos de diferentes classes terapêuticas, como quimioterápicos, imunomoduladores, imunoterápicos e corticóides. Entre os principais fármacos utilizados estão: ciclofosfamida, melfalano, bortezomibe, carfilzomibe, lenalidomida, talidomida, pomalidomida, daratumumabe e isatuximabe.
Para os casos de recidiva, novas opções terapêuticas altamente eficazes já estão disponíveis. Entre elas, destacam-se os anticorpos biespecíficos, como teclistamabe, talquetamabe e elranatamabe, e a terapia celular com CAR-T, considerada uma das abordagens mais inovadoras na oncohematologia.
Nos últimos anos, os avanços nos tratamentos transformaram o cenário do mieloma múltiplo, contribuindo para o aumento da sobrevida e para melhorias significativas na qualidade de vida dos pacientes. A escolha e combinação das terapias são, atualmente, personalizadas, levando em conta a intenção ou não de transplante, a presença de outras doenças, a tolerância aos medicamentos, o acesso às terapias e as preferências individuais. Embora ainda não seja considerada uma doença curável, o mieloma múltiplo é cada vez mais controlável, com estratégias terapêuticas prolongadas ou contínuas, focadas no controle efetivo e cada vez mais profundo da doença.
O mieloma múltiplo é uma doença complexa, mas que conta hoje com um arsenal terapêutico cada vez mais eficaz. O diagnóstico precoce, aliado a um acompanhamento feito por especialistas em hematologia, é determinante para alcançar remissões prolongadas, preservar a qualidade de vida e permitir que os pacientes vivam mais e melhor.
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