CAR-T Cell: entenda o que é e como a terapia celular é feita

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Por: Dr. Rodrigo Brum em 3 de outubro de 2025 6 minutos de leitura Hematologia

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A medicina translacional trouxe avanços expressivos para o tratamento de neoplasias hematológicas, e a terapia com células CAR-T (Chimeric Antigen Receptor T-cell) é um dos marcos mais relevantes dessa evolução. Trata-se de uma abordagem de imunoterapia altamente personalizada, que utiliza células do próprio paciente modificadas geneticamente para combater células tumorais de forma direcionada e eficaz. A terapia, já aprovada para alguns tipos de leucemias, linfomas e mieloma múltiplo, oferece novas possibilidades para casos refratários, com respostas duradouras em pacientes que haviam esgotado outras opções terapêuticas.

Apesar dos resultados promissores, a terapia CAR-T ainda é de alta complexidade, com desafios relacionados à produção, custo e efeitos adversos potenciais. Neste artigo, você entenderá como a técnica funciona, para quais pacientes ela é indicada e onde o tratamento está disponível no Brasil.

O que é a terapia CAR-T Cell?

A terapia celular com CAR-T consiste na reprogramação de linfócitos T do próprio paciente para que expressem um receptor quimérico capaz de reconhecer e eliminar células tumorais. Esse receptor é construído por engenharia genética para identificar antígenos específicos, geralmente expressos na superfície das células cancerígenas em questão. Uma vez reinfundidas no organismo, as células CAR-T ganham autonomia para atacar e destruir o alvo tumoral.

Essa forma de imunoterapia é especialmente indicada para tumores hematológicos, como leucemia linfoblástica aguda (LLA), linfoma difuso de grandes células B (DLBCL) e mieloma múltiplo, após falhas em tratamentos anteriores. É considerada uma opção terapêutica de resgate, com potencial de remissão profunda mesmo em doenças agressivas e refratárias e em alguns casos até mesmo cura.

Como a técnica funciona na prática?

O processo completo de terapia com células CAR-T envolve diversas etapas realizadas em centros altamente especializados:

  • Coleta de linfócitos T: O paciente é submetido a uma aférese, onde são separados os linfócitos T circulantes. Procedimento similar ao que se faz para realização de um transplante de medula. 
  • Modificação genética em laboratório: Essas células são modificadas por meio de vetores virais, inserindo o gene que codifica o receptor CAR na célula T do paciente. Para os CAR-T comerciais esta etapa é realizada fora do Brasil.
  • Expansão celular: As células modificadas são cultivadas até atingir o número adequado para reinfusão. As duas últimas etapas levam cerca de 4 semanas. 
  • Condicionamento: O paciente recebe quimioterapia para preparar a medula óssea para receber as células CAR-T adequadamente. .
  • Infusão e monitoramento: As células são reinfundidas no paciente, com necessidade de observação intensiva nos primeiros dias.

Essa etapa exige internação e suporte multidisciplinar, pois alguns pacientes podem apresentar efeitos colaterais significativos.

Em quais casos o CAR-T Cell é indicado?

As indicações aprovadas para a terapia CAR-T Cell atualmente incluem:

Tipo de neoplasiaIndicação clínica
Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA)Pacientes pediátricos e adultos jovens até e incluindo 25 anos de idade com leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B que é refratária, em recidiva pós-transplante, ou em uma segunda ou posterior recidiva;
Linfoma difuso de grandes células B-Pacientes adultos com linfoma de células B refratários à quimioimunoterapia de primeira linha ou com recidiva dentro de 12 meses da primeira linha de quimioimunoterapia. – Pacientes adultos com linfoma de grandes células B (LGCB) recidivado ou refratário após duas ou mais linhas de terapia sistêmica, incluindo linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) não especificado de outra forma, linfoma primário do mediastino de grandes células B, linfoma de células B de alto grau (LCBAG) e LDGCB surgindo de linfoma folicular. 

Linfoma Folicular

Linfoma Folicular recidivado ou refratário após duas ou mais linhas de terapia sistêmica.
Mieloma múltiplopacientes adultos com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, que receberam anteriormente um inibidor de proteassoma, um agente imunomodulador e um anticorpo anti-CD38. • pacientes adultos com mieloma múltiplo que receberam anteriormente um inibidor de proteassoma e são refratários à lenalidomida.

Além dessas, estudos clínicos estão em andamento para expandir as indicações da terapia para outras neoplasias hematológicas e tumores sólidos.

Vantagens e desafios do tratamento

A terapia com células CAR-T apresenta benefícios importantes para perfis selecionados de pacientes:

  • Alta taxa de resposta em pacientes refratários;
  • Potencial de remissão prolongada com um único tratamento;
  • Abordagem personalizada, com uso de células autólogas;
  • Avanço promissor em pacientes sem opções terapêuticas eficazes.

O acesso, porém, ainda é limitado, devido à falta de aprovação pelo plano de saúde que questiona na justiça a cobertura obrigatória deste tratamento tão dispendioso. No sistema público o acesso ocorre somente através de pouquíssimas vagas em estudos clínicos. Alguns centros privados também possuem acesso à alguns poucos estudos clínicos. 

Onde está disponível no Brasil?

No Brasil, a terapia CAR-T Cell já foi aprovada pela ANVISA para as indicações citadas e está sendo oferecida em poucos centros de referência que possuem infraestrutura adequada e aprovação prévia. . Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Curitiba são exemplos onde pode-se encontrar instituições com credenciamento para realização desta terapia. 

Conclusão

A terapia CAR-T Cell representa um avanço importante na oncohematologia moderna, especialmente para pacientes com doenças hematológicas recidivadas e/ou refratárias. Ao utilizar o próprio sistema imunológico como ferramenta terapêutica, oferece uma abordagem inovadora, com alto grau de personalização e resultados encorajadores em pacientes com poucas alternativas.

Ainda que não seja isenta de riscos e desafios logísticos, sua incorporação em centros de referência no Brasil abre caminho para um novo paradigma no cuidado de pacientes com leucemias, linfomas e mieloma múltiplo. O encaminhamento precoce e a avaliação criteriosa em ambiente especializado são essenciais para determinar a elegibilidade e maximizar os benefícios dessa terapia revolucionária.

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